domingo, 19 de maio de 2024

Em depoimento, Neymar diz que pai cuidou da ida ao Barcelona: “Assino tudo que ele manda”

Astro brasileiro fala à Justiça espanhola em julgamento de processo movido pela DIS sobre transferência. Pai do jogador confirma que filho nunca participa das negociações

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porVGSTV

Neymar prestou depoimento à Justiça espanhola nesta terça-feira, em meio ao julgamento do processo movido pela DIS sobre a transferência do atacante para o Barcelona, em 2013. O astro do PSG foi questionado sobre o processo que o fez escolher jogar no clube catalão e a assinatura de um acordo ainda nos tempos de Santos. Neymar afirmou que toda a negociação foi conduzida por seu pai e empresário.

Não participei da negociação. Sempre meu pai que cuidou. E sempre será. E eu assino tudo que ele me manda.”

— Neymar, atacante do PSG e ex-Barcelona

O pai de Neymar, que depôs na sequência do filho, confirmou a versão dada pelo jogador, de quem também é empresário. Neymar pai afirmou que o filho “sempre se preocupou em jogar futebol” e “sempre confiou” na gestão de seus direitos. – Ele nunca participa de negociações. Isso não quer dizer que ele é alienado, pelo contrário. Nós fazemos a vontade dele. Nós trabalhamos. Criamos uma proteção com advogados tributários, comerciais, civis, para poder dar segurança não apenas para Neymar, mas para toda a família – afirmou

O depoimento

Neymar voltou ao tribunal em Barcelona um dia depois de ser dispensado pelo juiz de acompanhar todo o julgamento por conta dos compromissos como atleta. Ele foi o primeiro a falar nesta terça-feira e abriu agradecendo pela dispensa no dia anterior, quando afirmou estar cansado.

O jogador indicou que estava à disposição para falar e foi questionado sobre o promotor público se participou da negociação na qual assinou contrato com o Barça em novembro de 2011. Ele primeiro afirmou não se lembrar. Depois, perguntado novamente diante de detalhes do documento, ele declarou que “assina tudo” que o pai manda”.

Na sequência, Neymar foi perguntado se havia outros interessados na sua contratação, além do Barcelona. Ele respondeu apontando que sabia dos rumores e que havia outros clubes que o desejavam, mas que sempre teve o sonho de jogar no Barcelona – e que seu coração “pedia o Barça”.

– O momento que eu decidi ir para o Barcelona foi 2013. Foi quando decidi sair do Santos. E quando eu decidi o time que era um sonho de criança. Após a promotoria, foi a vez da advogada de defesa falar com Neymar. Ela fez apenas duas perguntas, questionando a idade de Neymar em 2009 e se em 2011 ele havia viajado à Espanha. O jogador disse “Acho que não”, e ela encerrou os questionamentos.

Então, foi a vez do pai de Neymar ser chamado a falar. Ele foi questionado pelo Ministério Público sobre que tipo de empresa era a NN Consultoria, e respondeu que trata-se de uma empresa que agencia atletas, músicos e outras personalidades brasileiras.

Ao ser perguntado especificamente sobre o contrato assinado em 2011, que ligaria Neymar ao Barça a partir de 2014, ele confirmou que assinou o documento na condição de representante da empresa e de Neymar. Mas ele afirmou que não era um contrato de venda para o Barça.

– Não teve uma compra. Foi um acordo de prioridade. para que, se o neymar saindo livre em 2014, sem multa no contrato, ele poderia assinar como agente livre – afirmou o pai de Neymar.

Ele também apontou que havia uma carta do Santos autorizando a negociação com o Barcelona, e que ele e o atleta não precisavam comunicar à DIS tal processo – esta seria responsabilidade da DIS. O acordo de prioridade, segundo Neymar pai, dizia que se Neymar estivesse livre de vínculo com o Santos, poderia assinar contrato com o Barça.

O pai do jogador afirmou que não tem direito de intervir nos direitos econômicos de Neymar e, ao ser perguntado se o Real Madrid fez uma proposta entre 2011 e 2013, indicou que o clube madrilenho fazia propostas por Neymar desde 2009.

O MP, então, questionou o pai de Neymar sobre o aumento salarial, pagamento de luvas e direitos de imagem não previstos no contrato original, que somariam quase 20 milhões de euros a mais que o previsto. Ele respondeu:

– Luvas são normais no futebol. Meu trabalho é conseguir o melhor para o jogador financeiramente. É uma negociação comercial entre clube e agente do jogador.

Mais uma vez, o MP questiona a diferença de valores entre o acordo de 2011 e o salário recebido a partir de 2013. O pai de Neymar diz que “as coisas mudaram” e que “em 2011 era uma promessa, e em 2013 era uma realidade”.

Depois, Neymar pai diz que ele tomava as decisões da empresa, e que, apesar da mãe do jogador, Nadine, ser sócia, ela só tinha “posição representativa e administrativa”. Então, vieram os questionamentos de advogados, que perguntaram sobre o contexto da renovação do contrato de Neymar com o Santos e a negociação do acordo com o Barcelona.

O pai de Neymar disse que o processo começou em 2010, quando vários clubes queriam o jogador, e o Chelsea chegou a fazer uma proposta. Segundo ele, o Santos ofereceu parte dos direitos do jogador à DIS, e depois tentou comprar de volta, e a empresa recusou. Em 2011, o clube brasileiro mais uma vez teria decidido não vender Neymar naquele momento. Foi quando teria surgido o projeto para negociação futura do jogador.

– Decidimos deixar o Neymar até o final do seu vínculo contratual. E poder ter a possibilidade de fazer uma gestão de carreira até ele chegar na Europa. Nosso desafio era fazer ele aprender a língua. Durante esse período até 2014 achar um ambiente saudável para ele na Europa, um clube que fosse bom para ele. E eu sabendo da vontade do meu filho, que era o Barcelona. Decidimos que a gente iria fazer essa gestão até a final. Só que chega em 2013, o Santos e o Barcelona decidem antecipar essa venda. O Santos, pressionado pela oposição dentro do clube, me pede que eu deixe que o Santos possa vender o Neymar. Faltando meses para o vínculo contratual terminar, a gente decide ajudar o Santos para que eles também pudessem vender. E nós tínhamos a possibilidade de antecipar a vontade de Neymar.

O pai de Neymar depois foi questionado sobre o objetivo da empresa NN Consultoria e quando foi modificada a porcentagem do Santos com relação aos direitos do jogador. Ele garantiu que Neymar nunca recebeu algo pelo acordo com o Barcelona em 2011 e explicou a carta liberatória do clube brasileiro para negociar com equipes da Europa.

– Nós criamos depois que o Santos não queria vender o Neymar. O Santos não quis vender para ninguém. Tudo bem. Então eles me deram uma carta para que eu pudesse buscar algum clube que fosse bom para o Neymar após 2014. O Santos disse: “Eu não quero mais esses assédios. Queremos que ele fique até 2014”. Eu disse que o Neymar tinha um sonho de ir para a Europa. E o Santos topou que eu negociasse, mas só depois da Copa de 2014. E nós concordamos, porque queríamos que ele fosse para a Europa depois da Copa. Mas eu queria documentar isso. Eu não poderia ir para o mercado se não tivesse a permissão do Santos. Por isso a carta foi criada. E não foi criada por mim, foi criada pelo Santos.

O processo da DIS

O astro brasileiro, além de seus pais e de dirigentes do clube catalão, são acusados pela empresa DIS e pelo Ministério Público espanhol de uma série de crimes fiscais relacionados à sua transferência do Santos para o Barcelona, em 2013. As acusações pedem a prisão de Neymar e multas para todos os envolvidos.

O caso começou a ser julgado na segunda-feira e vai continuar até 31 de outubro. A defesa de Neymar nega as acusações e argumenta que um tribunal da Espanha não deveria poder julgar algo que no Brasil – onde o contrato foi assinado – não é considerado crime.

A venda de Neymar pelo Santos ao Barcelona foi anunciada em maio de 2013 por 17,1 milhões de euros. Este foi o valor pago pelo clube catalão ao brasileiro. A DIS era dona de 40% dos direitos econômicos do atleta, modalidade de negócio que era permitida na época e foi proibida pela Fifa em 2016. Por essa fatia, a empresa recebeu 6,84 milhões de euros.

Mais tarde, porém, o próprio Barcelona revelou que a transação custou 57 milhões de euros. A diferença de quase 40 milhões de euros foi paga à empresa N&N (sigla para Neymar e Nadine, pais do jogador). Teve início uma batalha na Justiça. E uma investigação constatou que o total da transação foi ainda maior: 86,2 milhões de euros.

Nesse valor estavam embutidos pagamentos por amistosos a serem disputados por Barcelona e Santos, direito de preferência por jovens atletas da base santista, acordos entre o Barcelona e a Fundação Instituto Neymar Jr, direitos de imagem, luvas para Neymar e comissões para agentes.

Na ação que começou ser julgada nesta segunda-feira, a DIS argumenta que estas foram manobras feitas para reduzir o valor de sua fatia do negócio.

– Os direitos de Neymar não foram vendidos a quem apresentou maior oferta. Neymar, seus pais e os dirigentes dos dois clubes traíram a confiança dos irmãos Sonda, que investiram no jogador – declarou o advogado da empresa, Paulo Nasser, numa entrevista coletiva realizada na Espanha na última sexta-feira.

A DIS comprou 40% dos direitos de Neymar em 2009, quando ele tinha 17 anos, por 2 milhões de euros. Caso a negociação entre os dois clubes – sem os outros contratos – tivesse sido fechada em 86,2 milhões de euros, a empresa teria faturado 34,5 milhões de euros.

A acusação contra o jogador, seus familiares e os dirigentes é de “corrupção privada”, um crime que só passou a existir na Espanha em 2014. E que até hoje não existe no Código Penal Brasileiro.

Esta é a principal linha de defesa de Neymar. É o argumento dos advogados contratados pelo jogador e sua família para defendê-los.

– O Brasil não criminaliza corrupção entre particulares. Não é possível aplicar a lei brasileira a um fato espanhol, porque a lei brasileira criminalizando a corrupção privada não existe e, embora exista o crime de corrupção privada na Espanha, como nós não temos essa previsão idêntica no Brasil, é impossível a sua aplicação no território nacional – diz Davi Tangerino, que defende Neymar nos casos fiscais em curso no Brasil.

Fonte: GE