Talvez nem Lionel Messi fosse tão indicado a bater o pênalti decisivo da Argentina na Copa do Mundo quanto Gonzalo Montiel, lateral-direito de 25 anos do Sevilla, da Espanha.
Exageros à parte, Montiel tinha, sim, tudo para fazer o gol do título, como o fez: afinal, nunca errou um pênalti na carreira em dez tentativas por River Plate, Sevilla e seleção. Revelado pelo River, Montiel arrumou, quase por acaso, um problema crônico da equipe então treinada por Marcelo Gallardo. No fim de 2020, a equipe perdeu pênaltis sucessivos e, em 11 de dezembro, num jogo contra o Nacional, do Uruguai, pela Libertadores, o lateral-direito sentiu confiança, bateu um pênalti e abriu o caminho da vitória por 2 a 0.
– Como vínhamos nessa sequência adversa de pênaltis, entendo que o jogador com maior confiança pegue a bola e cobre. Em geral, são os jogadores que decidem. E com base no que estávamos passando, decidi que a alternativa era Montiel. Teve confiança e bateu muito bem – disse Gallardo, depois daquele jogo.
– Montiel será o encarregado de bater pênaltis enquanto estiver em campo – completou.
Desde então, são 10 pênaltis cobrados. Nenhum erro. No período de instabilidade do River, erraram cobranças nomes do calibre de Julián Álvarez, destaque na Copa, Nacho Fernández, agora ex-Atlético-MG e Rafael Santos Borré, centroavante colombiano.
O “estilo” Ronaldinho
Na Copa, Montiel já havia batido com convicção na disputa por pênaltis contra a Holanda, nas quartas de final. No gol do título, a confiança é tão grande que ele mal olha para a bola na cobrança. E ela vai exatamente onde ele deseja, no canto direito de Lloris, que nada pode fazer.
O estilo lembra o de Ronaldinho Gaúcho, mestre em dar passes ou finalizar sem olhar para a bola ou o gol. E não é por acaso. Nesse estilo, Montiel também já havia marcado pelo River Plate. Foi contra o Colón, numa vitória por 3 a 2 pelo Campeonato Argentino, em 2021.
A mãe que não vê os gols
Montiel ainda conta com uma ajuda extra na hora dos pênaltis. Sua mãe, Marisa, tem uma superstição: não assiste às cobranças do filho. Deu certo uma vez, e ela preferiu não arriscar.
– Sinto muitas emoções juntas, nem sei onde estava na hora do pênalti. Mas cada vez que ele vai bater um pênalti eu não vejo, e ele nunca erra. Já á superstição que toda a família assista, menos eu – disse Marisa Montiel, ao jornal “El País”. No domingo, provavelmente ela e o filho, no “estilo” Ronaldinho, foram os únicos argentinos que não viram o pênalti que, enfim, encerrou o jejum de 36 anos do país sem Copas do Mundo.
Fonte: GE