quinta-feira, 2 de maio de 2024

Renato Augusto abre o jogo sobre clima no Corinthians, relação com VP, lesões e choro na Copa

Em entrevista ao ge, craque do Timão diz que ainda sonha com a seleção brasileira, mas que foco é no clube; dentre outros assuntos, ele até reclamou do preço das figurinhas do Mundial

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porVGSTV

Pela categoria com que trata a bola e a visão apurada que tem do jogo, há quem brinque que Renato Augusto atua de terno, tamanha elegância. Já fora de campo, o meia também mostra inteligência e repertório nas entrevistas, mas dispensa qualquer traje formal.

De chinelo, bermuda e regata, Renato Augusto recebeu a reportagem do ge no CT do Corinthians para um conversa franca e divertida de mais de uma hora, na qual passou pelos mais variados temas.

Da vida na China às ameaças recebidas pelo amigo Willian. Do papel de liderança no elenco alvinegro ao relacionamento com o técnico Vítor Pereira. Do choro no vestiário após a eliminação da Copa de 2018 ao preço das figurinhas do Mundial do Catar.

– Pô, tá caro pra caramba! – queixou-se.

O meia não está no álbum deste ano, mas não desiste do sonho de ser convocado novamente por Tite. Porém, diz que o foco está no Corinthians e na chance de voltar a ganhar a Copa do Brasil 16 anos depois (o Timão disputa a semifinal contra o Fluminense).

Atualmente com 34 anos e esperando o nascimento do segundo filho, Renato Augusto integra uma das últimas gerações que viveu o futebol “analógico”, sem redes sociais e câmeras de celulares por todos os lados. Com certa nostalgia, o meia diz que prefere o “olho no olho” e faz uma análise das mudanças provocadas pela tecnologia na vida dos jogadores de futebol:

– Quando eu subi para o profissional, tinha acabado de ser campeão da Copa do Brasil. Pô, Renato Augusto, nome fortíssimo. Mas eu andava na rua e ninguém sabia quem eu era. Eu ia para o colégio, estava terminando o ensino médio, e no ônibus tinha um cara olhando minha nota no jornal e eu ali do lado, dando aquela olhadinha de canto. Hoje o moleque sobe e todo mundo já sabe quem é, todo mundo segue, o próprio clube te dá mais informações. Estou tentando me adaptar a essa nova era.

Nesta entrevista, Renato Augusto também fala sobre o que planeja para o futuro da carreira e como uma conversa com Rógerio Ceni o fez refletir sobre a preparação necessária para ser técnico.

Ainda acredita que possa ser convocado para a Copa do Mundo no Catar?

– Eu não sei, acho que vai depender muito do meu dia a dia ou do o que ele (Tite) pensa. Claro que todos querem ir para a Copa. Eu joguei uma e sei como é maravilhoso. Mas hoje minha cabeça está muito mais aqui. E eu acho que o que te credencia é fazer um grande trabalho no seu clube. Eu não posso estar com a cabeça na final da Copa do Brasil, por exemplo, se eu não passei da semi. Tem que sempre pensar no próximo passo. É algo que você aprende com o tempo, hoje estou mais focado nisso.

– Antes, quando tinha possibilidade de Seleção, eu ficava, pô, tenho que fazer alguma coisa diferente. Mas não, você tem que fazer o que sempre faz. Ah, mas o treinador pode estar vendo, melhor fazer alguma… Não, você nunca faz isso, ele veio te ver pelo o que você sempre faz. Se tiver a oportunidade, estarei preparado. Se não tiver, vou seguir igual, o Tite é um cara que eu respeito muito. Sou muito grato a ele, me fez chegar no meu ápice técnico aqui no Corinthians, um momento incrível. Meu carinho e respeito vão ser sempre iguais.

E no hexa, acredita?

– Não só isso (o fato de Tite ter o ciclo completo). Ele também está mais preparado, já vivenciou uma coisa. Era a minha primeira Copa, a dele, de muitos jogadores. E Copa é diferente de tudo. Ele chega mais preparado, e teve mais tempo para se preparar para situações diferentes. Você enfrenta linha de cinco, ele já tem situações preparadas que não tínhamos tanto antes, que também não tínhamos tanto tempo para trabalhar. Muitos jogadores surgiram, então também tem esse leque maior de opções. Você pode levar 26. Acho que isso tudo pesa. Eu acredito muito que vai dar certo.

O Tite sabe bem a dor dos centímetros que faltaram para aquele seu chute contra a Bélgica ter entrado, né?

– Eu lembro que depois do jogo eu estava chorando para caramba. Ali eu percebi que você sofre como jogador e torcedor, bicho, é uma mistura de emoções muito grande. Você se prepara quatro anos para isso. Eu estava chorando muito, e o Casemiro estava do meu lado. Aí falei, caraca, Casão… E ele: “Você fez o que deu”. E eu, cara, eu tirei o máximo que dava porque o cara (Courtois, goleiro da Bélgica) é muito grande. Quando eu dominei a bola fica um pouco curto, e se eu dou o tapa, o lateral chega. Então quando dominei, já inclinei o corpo para tentar um pouco de ângulo, para ele cair do lado de lá e eu virar o pé aqui. Só que eu falei, vou tirar o máximo porque ele é muito grande, aí tirei e a bola tirou tinta. Passou dois meses, toca meu telefone, é o Casemiro…

– Fala irmão, como você tá? – eu falei.
– Lembra que depois do jogo tu falou que o cara era grande para caramba, não sei o que lá…
– Lembro, pô.
– É verdade –
 ele falou (risos), já que o Courtois tinha ido para o Madrid – Mermão, esse cara é muito grande, ele pega tudo, você tava certo.
– 
Aí eu falei, – pô, Casão, agora eu tô mais aliviado (risos).

– Ele estica o braço e chega na trave, é muito grande. Mas na hora você tem menos de um segundo para definir a jogada. Foi um jogo diferente. Quando eu entrei no lugar do Paulinho, que é mais de infiltração, e eu mais de criação… E o Douglas tinha entrado muito bem na direita. O Tite falou para rodar a bola nele. Mas quando entrei, vi que tinha um espaço no meio. Primeira bola o Coutinho pegou a bola, eu corri e ele não tocou. Aí eu falei: “Couto me olha que eu vou infiltrar aqui”. E ele: “Tá bom”. Na outra ele me dá, eu cabeceio, e falo: “Me dá mais uma que vou empatar o jogo”. Aí ele me dá, falei, é agora… Passou, não aconteceu o gol. Aí o técnico da Bélgica já coloca um cara ali.

– Teve uma convocação depois da Copa e o Tite brinca comigo: “Quando eu falar para você fazer uma coisa, não precisa fazer (risos)”. Eu falei, pô, professor, o jogo às vezes te pede algo que, quem está de fora, não vê às vezes. Estava do outro lado Neymar, Coutinho, muitos virados para a esquerda, e o Douglas aberto do outro lado. Não tem como pegar todos, tem um espaço. Quando eu tive a oportunidade, infelizmente a bola não entrou. Eu brinco, se a bola entra a gente não saía do estádio mais. A chance da virada era muito grande, massacramos bastante no segundo tempo. Não só minha bola, teve do Couto do Neymar, o pênalti escandaloso no Jesus. Tem coisas que não se explicam, talvez se jogássemos mais dez horas ali, a bola não entrava.

Mas como você mesmo disse, o foco é o Corinthians. Qual o seu papel na equipe hoje?

– Eu procuro ser um espelho para os mais jovens, tanto fora, como dentro de campo. Ser um líder para eles junto com os que já temos na equipe, Cássio, Fagner, Gil, a volta do Balbuena agora, para que a gente possa apoiar quem está chegando ou subindo, como os mais jovens, para subirmos de nível. Antes eu tinha uma responsabilidade única e exclusiva, técnica, dentro de campo. Hoje a responsabilidade é um pouco maior pela história que você constrói no clube, no futebol, de poder auxiliar os mais jovens, mas ao mesmo tempo ter que responder dentro de campo. Essa mudança existiu naturalmente, não me forcei a nada, aconteceu. Acho que esse é meu caminho daqui para frente, ter a responsabilidade dentro e fora do campo.

E com toda a sua sinceridade, o time muda com você?

– Ah, não sei, acho que muda com qualquer jogador. Eu acho que sem o Willian o time muda, com o Guedes o time muda, cada um tem sua característica, e cabe ao treinador utilizar o jogador dessa forma ou não. Então, eu procuro performar, como sempre falo, ajudar dentro e fora. Em alguns momentos você vai ajudar sem tocar na bola, um passo para o lado abrindo espaço para outro atleta, um passe, um chute no gol, então, com o tempo, você percebe que todos são importantes. Como já aconteceu aqui, eu tenho que resolver, tenho que pegar o jogo para mim, e não é assim.

– Você percebe que todos são importantes. E por isso falei do Róger. É um cara que, para mim, tecnicamente, é espetacular. Forte, finaliza, cabeceia bem, é rápido, tem tudo para ser esse grande jogador do time. Às vezes precisa de um empurrão, falar, cara, você tem, vai. Eu acredito que possa ser esse líder técnico, ele é o cara que tem o drible, o um contra um. Ele já teve uma evolução desde que chegou, até agora. Este ano ele teve uma troca, um crescimento, então acredito que possa crescer ainda mais.

Que tipo de empurrão o Róger precisa?

– De tudo um pouco. E ele é um cara que gosta de ouvir. Teve uma situação em um jogo, acho que contra o Ceará, ano passado, lá. E ele estava vindo buscar muito o jogo. Eu falei, Guedes, o espaço está entre esse jogador e esse, vai lá. Na jogada seguinte ele foi, correu, acho que o Giuliano enfiou a bola para ele no fundo, aí ele driblou para trás e fez o gol. Aí ele olhou para mim e falou: “É isso!”. E eu, é isso. Então tem esse empurrão, e o empurrão de falar, cara, você tem totais condições, bora. Dentro do jogo você enxerga coisas e tem essa troca, às vezes ele vai ver coisa que eu não vou ver, tem que ter essa troca.

– Quando eu voltei, tinha preocupação em como eu ia me adaptar ao time, com jogadores jovens e com idades diferentes. É um elo difícil. Eu estava preocupado e já fui no Fábio, e ele: “Renato, normal”. Ele me ajudou muito nessa parte. E é normal, são todos iguais. A gente fica nessa, ah, porque os mais jovens… São todos iguais. Todos pensam iguais, todos sofrem com as derrotas, críticas, gostam de ser elogiados, todos iguais. Claro, uns mais vividos que os outros, cabeças diferentes, mas iguais. Essa troca me ajudou muito nessa minha readaptação ao clube e ao futebol brasileiro.