quinta-feira, 2 de maio de 2024

Tite transforma comportamento em campo para ter na Copa do Mundo uma “seleção de primeira”

No Mundial de 2018, a seleção brasileira praticamente só conseguiu fazer gol quando finalizou com um único toque na bola. Agora, irá para o Qatar fazendo 80% de seus gols dessa forma

Publicado em
porVGSTV

Tite estreou no comando da seleção brasileira masculina na sétima rodada das Eliminatórias para a Copa de 2018, em 1º de setembro de 2016, há seis anos. De lá para cá, mudou o comportamento do ataque, tornando a seleção brasileira uma equipe “de primeira”, que finaliza principalmente com um único toque na bola. Exigência dos tempos atuais: na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, quando o Brasil foi eliminado pela Bélgica sob o comando de Tite, de cada dez gols marcados, em oito o finalizador deu um único toque na bola.

Análise feita na época considerou que “definitivamente, o individualismo está sem espaço na Copa do Mundo”. Do oito gols marcados pela seleção brasileira na Copa da Rússia, em sete a finalização foi feita com só um toque na bola (88%). Só o primeiro gol não foi assim. Mas das 104 finalizações feitas pela equipe nacional naquele Mundial, 44 foram com um toque na bola (42%). Se a marcação adversária não dava espaço, era preciso mudar. Faltas diretas e pênaltis dependem da arbitragem, mas de resto, sob Tite e sua comissão técnica, a seleção brasileira se atualizou para aumentar suas chances de conquistar a tão sonhada taça mundial. No amistoso contra a sonolenta Gana, ficou evidente: sem contar uma falta direta, a seleção construiu outras 24 finalizações, sendo 13 delas concluídas com um único toque na bola: foram nove conclusões “de primeira”, sem dominar a bola antes do chute, e quatro de cabeça (54%). Na finalização de primeira, a defesa adversária só tem uma chance de interceptar a finalização na origem. Nesta terça-feira o Brasil enfrenta a Tunísia, às 15h30.

Ainda que se possa relativizar o empenho de Gana no amistoso, a análise não está baseada no desempenho em uma partida: a marca de 54% de finalizações com um único toque na bola nesse amistoso representa muito bem o que o ataque da seleção vem fazendo atualmente. Desde que Tite assumiu o comando da seleção, foram feitas 1.048 finalizações sem contar faltas diretas e pênaltis, cada uma delas analisada pelo Espião Estatístico.

Como mostra o gráfico abaixo, sem contar pênaltis e faltas diretas, nas cem primeiras finalizações feitas pela seleção sob o comando do técnico Tite, o índice de arremates com um toque na bola foi de 38%. Em recortes de cem em cem conclusões em gol, sempre sem contar pênaltis e faltas diretas, essa influência foi variando gradualmente. Quando a Copa da Rússia foi disputada, a seleção estava na faixa de 301 a 400 finalizações sob o comando de Tite, e a equipe fez 40% das finalizações com um toque na bola. Depois, evoluiu até chegar a 57% de finalizações com um toque na bola nas finalizações 901 a 1.000 sob o comando de Tite. Nas últimas 48 conclusões, a influência das finalizações com um toque na bola está em 54%.

A influência sobre os gols marcados

Como dizia o antigo locutor, “o que vale é bola na rede”, e com o aumento da influência das finalizações com apenas um toque na bola ao longo do tempo, cresceu também a influência dos gols em finalizações de cabeça ou chutes de primeira, com um toque só na bola, sempre sem contar pênaltis, faltas diretas (e também em escanteios olímpicos, mas a seleção não fez finalização assim com Tite).

No quadro abaixo, as barras verticais mostram o total de gols marcados sem contar conclusões diretas de bola parada. Em verde mais escuro são os gols feitos com um toque na bola, e em verde mais claro estão os gols marcados após o domínio da bola. Em amarelo é apresentado o percentual de gols com um só toque na bola em relação aos gols feitos.

Nas cem primeiras finalizações feitas pela seleção sob o comando do técnico Tite, foram marcados 20 gols, metade com um toque e metade com domínio antes da conclusão. Nas cem finalizações seguintes, a influência dos gols com um toque na bola cresceu para 64%. As primeiras dez finalizações na estreia do Brasil na Copa da Rússia são feitas no recorte de 201 a 300 finalizações, o restante, no recorte seguinte, quando o Brasil teve o ápice de influência dos gols com um toque na bola: 100% nos oito gols conquistados entre as finalizações 301 a 400.A partir das finalizações 501 a 600, a influência dos gols com um só toque na bola não caiu mais abaixo de 60%, o que era normal nas primeiras 300 finalizações feitas. Tite colocou em campo jogadores que conseguem finalizar com um toque. O amistoso contra a Tunísia será mais uma oportunidade para acompanhar se esse objetivo está bem assimilado, meta que pode ser decisiva para a convocação de um jogador como Pedro, do Flamengo.

Fonte: GE